quinta-feira, 20 de junho de 2013

Mark Knopfler

Falar de Mark Knopfler, pra mim, é quase como falar de uma entidade superior. Além de ser meu grande ídolo e provavelmente o guitarrista que mais ouvi na vida, foi também o cara que me fez querer tocar guitarra.

Pra quem não conhece, uma breve explicação: Mark Knopfler, nascido na Escócia em 1949, foi guitarrista, vocalista e líder da lendária banda britânica Dire Straits, que atingiu o auge do sucesso em meados dos anos 80. E desde 1996 ele segue em carreira solo muito bem sucedida, lançando álbuns e fazendo shows ao redor do mundo até hoje.

O Dire Straits sempre foi minha banda favorita. O álbum ao vivo "Alchemy" foi o primeiro CD que comprei e é até hoje meu disco favorito de todos os tempos. Conheço toda a discografia deles e, mais recentemente, passei a conhecer mais a fundo também a carreiro solo de Knopfler. Na verdade não dá pra separar muito as duas coisas, já que ele era o grande "cérebro" por trás do Dire Straits, compondo todas as músicas e liderando a banda que passou por diversas formações diferentes, só mantendo ao seu lado o baixista John Illsley. Knopfler, além de bom cantor, toca guitarra com uma personalidade incrível. Mesmo de forma simples, sem grandes malabarismos técnicos, é facilmente reconhecível em poucos segundos, seja tocando com uma Fender Stratocaster (som que o consagrou) ou com uma guitarra de som mais "denso", como a Gibson Les Paul. Sempre com precisão e, principalmente, com muita emoção a cada nota.

Um amigo meu diz que "ser fã de Dire Straits é ser fã de várias bandas numa só". E é verdade. Desde seu primeiro álbum de estúdio, de 1977, até o último, lançado em 1991, o Dire Straits nunca lançou discos com sonoridade parecida ou algum trabalho dispensável, que não acrescentasse algo à sua história. Vemos por aí diversas bandas e artistas (até mesmo consagrados) que se repetem e se tornam caricaturas de si mesmos. O Dire Straits não. Podiam levar anos para lançar um novo disco, mas Mark sempre reinventava seu som.

Quando o Dire Straits surgiu, lançando seu álbum homônimo que continha o histórico hit "Sultans of Swing", a banda trazia um pop-rock bem trabalhado, com influências do country e uma estética instrumental bem simples (duas guitarras, baixo e bateria). A guitarra de Mark, com um timbre limpo e estalado, se tornou marca registrada da banda. Nos álbuns seguintes, o som do Dire Straits foi ficando mais elaborado, com teclados bem presentes e algumas composições mais longas. A banda chegou a flertar com o rock progressivo em músicas como "Telegraph Road" e "Private Investigations" e no disco ao vivo "Alchemy" (de 1984) algumas músicas tem versões de mais de 10 minutos, com solos longos e um arranjo fantástico trabalhando muito com a dinâmica da banda (na minha opinião, o auge do Dire Straits). Depois disso, ainda lançaram seu álbum mais famoso, o mega-sucesso "Brothers in Arms", que teve várias músicas tocadas no rádio e na TV, fazendo a banda se tornar uma das maiores do mundo. E, por fim, o disco "On Every Street", se distanciando bastante do estilo mais popular do álbum anterior e trazendo um som mais introspectivo e com arranjos mais elaborados, seguido do álbum ao vivo "On the Night", gravado durante sua última turnê.

Então, Mark Knopfler resolve dissolver a banda, que havia se tornado grande demais, exigindo shows em estádios e turnês muito cansativas, para se lançar numa carreira solo e poder fazer suas coisas num "nível administrável", segundo suas próprias palavras. Uma decisão acertadíssima, tirando a pressão que carregaria por manter o nome Dire Straits e ficando mais livre para se distanciar do rock quando tivesse vontade, podendo trazer influências mais claras de folk e country às suas composições. Toda o trabalho solo de Knopfler é de uma qualidade impressionante. Se por um lado o Dire Straits lançava "pérolas" líndissimas em seus discos em meio a outras músicas que não chamavam tanto a atenção (sim, eu também critico - haha), o trabalho solo dele se mantém num nível mais constante, sempre altíssimo, mesmo que nem sempre traga alguma música com potencial para se tornar um clássico popular como "Sultans of Swing" ou "Brothers in Arms". Já são sete álbuns de estúdio. O último deles (o ótimo "Privateering") é um álbum duplo e foi lançado no ano passado. Pra um artista consagrado lançar um disco duplo aos 63 anos de idade, tem que gostar muito do que faz...

Estou indo para a Europa amanhã, onde terei a oportunidade de ver Mark Knopfler ao vivo pela primeira vez na minha vida. Tenho ingressos pro show de Paris e de Rennes. Depois escrevo sobre isso. Ansiedade total.

Por fim, vou deixar aqui três vídeos. No primeiro deles, Dire Straits na abertura do show "Alchemy", com uma versão impressionante da música "Once Upon a Time in the West", destacando solos lindos de Knopfler. No segundo vídeo, uma gravação amadora do ano passado de "Kingdom of Gold", música de seu disco mais recente. E, por último, uma humilde gravação minha tocando guitarra junto da música "The Trawlerman's Song", na versão do EP "One Take Radio Sessions". Já que não posso tocar com ele de verdade, fiz essa brincadeira aí...

Abraços e até mês que vem!
E.Marcolino








quarta-feira, 12 de junho de 2013

Pat Metheny no Vivo Rio: irretocável

Começo esse texto já sabendo que vai ser difícil. Tinha planejado escrever sobre outras coisas aqui, mas tenho que falar logo desse show. "Irretocável" é pouco, mas faltou achar um adjetivo melhor. Já vi grandes espetáculos que considerei irretocáveis. Vi o U2 dar um show de som e imagem num palco 360 graus no Morumbi. Vi shows fantásticos do Joe Satriani. Vi o gênio Stevie Wonder no Rock in Rio, vi Rush na Apoteose, vi Marillion, vi Eric Clapton... Isso só pra citar alguns exemplos. Mas eu nunca presenciei algo tão impressionante e com um nível de musicalidade tão alto quanto o show do Pat Metheny nesta segunda-feira, no Vivo Rio, pelo BMW Jazz Festival. Sem medo de errar: o melhor show da minha vida!

Não falo tendenciosamente como "fã de carteirinha" (como eu poderia fazer com Knopfler ou Satriani, artistas que de fato conheço bem a fundo e sempre idolatrei). Sou fã do Pat, sim, mas não a ponto de conhecer toda sua obra ou adorar tudo que já ouvi (certamente a partir de agora acompanharei melhor seu trabalho).

Enfim, o show: Pat vem acompanhado de sua "Unity Band", em formato de quarteto, banda com a qual gravou seu último disco e que ganhou um Grammy neste ano. Mas ele não entra no palco com a banda. Chega sozinho e logo de cara pega a "Pikasso Guitar", um violão de 42 cordas feito pra ele que na verdade é algo tipo uma mistura de violão com harpa. O show começa com ele tocando sozinho, já impressionando a plateia, e a banda entra enquanto ele ainda toca o instrumento. Com a banda já tocando junto, se levanta pra pegar a guitarra e logo nas primeira músicas o êxtase é geral. É um improviso atrás do outro, a banda se comunicando quase que telepaticamente, dinâmica descendo e subindo, rítmica absurdamente complexa, chegava a ser assustador... Não dava pra parar de prestar atenção por um segundo. A banda toda é incrível (Chris Potter no sax, Ben Williams no baixo e Antonio Sanchez na bateria) e o Pat ao vivo é literalmente de outro planeta: o domínio harmônico é total, a técnica é impecável, tudo feito sem perder o ritmo. E o mais impressionante: ele desfere milhares de notas sem nunca soar robótico ou excessivamente cerebral (que é algo que me afasta em vários jazzistas). É tudo extremamente musical e melódico, mesmo com a técnica e a harmonia sendo levadas ao limite.

Nem consigo ficar destacando poucos momentos específicos do show, porque foi tudo perfeito e prendeu a atenção do público do começo ao fim. Pat fez duetos com todos os membros da banda (tocando "Insensatez" de Jobim num duo de guitarra e baixo), tocou baladas, deu espaço pra todos os instrumentistas solarem e mostrarem muito talento e, surpreendentemente, levou ao palco também uma parte dos acessórios do seu projeto "Orchestrion" (pra quem não conhece, um trabalho onde ele controla diversos instrumentos diferentes tocados por aparelhos mecânicos através de sua guitarra e de pedais, fazendo "loops"). Com o "mini-Orchestrion" no palco, além da sonoridade incrível de tudo que estava rolando simultaneamente ali, o efeito visual era hipnotizante, com instrumentos que acendiam luzes de acordo com as notas tocadas.

O público não deixava o show acabar e rolaram três "bis". Em um deles, Pat voltou ao palco sozinho e tocou trechos de várias músicas no violão, com um timbre lindo.

O show não cansava, mudava de dinâmica o tempo todo, não deixava ninguém respirar. Além do roteiro que prendia a atenção de forma impressionante, a musicalidade e a técnica eram sobre-humanas. Foram quase 3 horas de música que passaram despercebidas.

Ainda estou sob os efeitos do show. E vai demorar pra passar. Muito genial, muito bonito e muito assustador, pelo nível que esses caras atingiram. Tudo ao mesmo tempo.

Nunca vi nada parecido. E acho difícil que aconteça. Que bom que tive essa oportunidade.
E. Marcolino

PS: Deixo aqui um vídeo que achei no Youtube da música "Are You Going With Me", se não me engano tocada na primeira vez em que a banda voltou ao palco para o bis. Claro que ver um vídeo gravado nessas condições sequer chega perto da emoção transmitida ao vivo, mas vale como recordação.