terça-feira, 24 de setembro de 2013

Impressões sobre o Rock in Rio 2013

E chegamos ao fim de mais um Rock in Rio!

Antes de qualquer coisa, gostaria de exaltar o evento, que mais uma vez deu um show de organização, ainda mais se levarmos em consideração o que geralmente temos que encarar aqui no Brasil. Fácil acesso para as lojas e lanchonetes, banheiro sem tumulto, bom espaço para circulação das pessoas e principalmente: qualidade de som ANIMAL no palco principal. De longe, melhor som que já ouvi em shows ao ar livre. Mesmo de longe, dá pra ouvir tudo e muito bem. Impressionante.

Sobre as reclamações que rolam por aí que Rock in Rio "não é rock", que o line-up é de baixa qualidade e tudo mais, nem me estendo muito nesse "mimimi" de corneteiros. A grande maioria dos artistas é de rock (fato indiscutível) e temos muitos shows de extrema qualidade. Além disso, ninguém obriga o roqueiro a ir num dia de shows pop (que foram apenas 2 dos 7 dias de festival). Acho totalmente válido e a programação dos shows desta vez foi bem coerente. As únicas coisas que lamentei foram: o show do Living Colour (uma das melhores bandas em atividade no mundo) ser num dia pop em que quase ninguém do público conhecia os negões do funk-hard-rock (que fizeram um showzaço) e o DJ David Guetta ter tido destaque no palco principal. Pra mim, palco é pra bandas que tocam de verdade. Respeito o trabalho do DJ, mas pra fazer um show "ao vivo" apertando o play, que vá numa tenda eletrônica ou algo do tipo.

Pois bem, estive lá nos dias 20 e 21 e de resto acompanhei várias coisas pela TV e pela internet.

Pelo que vi de fora, destaco positivamente os shows do Muse (uma das poucas bandas que trazem novidade para o rock, e com qualidade altíssima), Ivan Lins com George Benson, Living Colour, Metallica (na pressão!), Jessie J (pra mim, a melhor apresentação entre os artistas mais pop) e Iron Maiden (que continua chutando bundas, apesar de eu não ser fã).

Negativamente, tenho que destacar vários shows, principalmente do Palco Sunset, onde teve uma galera que perdeu a noção do que é cantar afinado. O primeiro que vi na TV, do B Negão com Autoramas, foi um verdadeiro show de horrores! O cara cantou desafinado o tempo inteiro e a banda é muito fraquinha. Depois disso, subiu no palco Marky Ramone com um vocalista também lamentável. E no dia do metal, onde se espera no mínimo melhor performance técnica do que no punk rock, os micos vocais foram protagonizados por Edu Falaschi, do Almah (esse desde os tempos de Angra sempre pagando mico ao vivo) e Sebastian Bach, que mas se apresentou com uma voz irreconhecível, fora do tom o tempo todo. Das atrações principais, achei o show da Beyoncé muito fraco, com ela no geral não cantando quase nada e só abrindo a boca pra soltar uns "yeahs" e gritinhos entre os refrões. Muita pompa pra pouca musicalidade. E o Justin Timberlake, com uma banda excelente, fez um show chatíssimo. Não adianta. Por melhor que seja a produção e a banda de apoio, as músicas são muito parecidas e sem graça. Aquele hip-hop-pau-mole que não leva a lugar nenhum. Dispensável. Definitivamente, o RiR de 2011 tinha sido mais bem servido de headliner pop, com a Rihanna.

Curti bastante os shows que vi de perto. No dia 20, o pouco que vi do Frejat quando cheguei foi bem legal. O som estava uma porrada e ele tocando guitarra muito bem. Depois, vi Ben Harper com Charlie Musselwhite no Palco Sunset. Fui sem muita expectativa e me surpreendi positivamente. Fizeram um show de blues com muitos solos e ótimos arranjos. Nas atrações principais, Matchbox 20 fez uma apresentação competente, Nickelback fez um showzaço cheio de hits e o Bon Jovi não decepcionou, apesar da ausência de Richie Sambora, que eu gosto muito. A banda é sensacional e sabe fazer um puta show, apesar da voz do Jon infelizmente não ser mais a mesma e ele mostrar dificuldade nos agudos. Mas não comprometeu. Showzão. No dia 21, o show do Skank foi animado e achei muito boa a apresentação do Philip Philips, que tocou com uma banda excelente e que teve espaço pra mostrar suas qualidades. A única crítica é que o cara imita demais a Dave Matthews Band. Mas, anyway, é muito bom.

Em relação aos dois últimos shows do dia 21 (John Mayer e Bruce Springsteen), vou colar aqui os comentários que já fiz pelo Facebook assim que cheguei em casa naquela noite.

"O show do John Mayer, como eu esperava, foi sensacional! Sou suspeito pra falar porque sou muito fã do cara. Mas é, pra mim, o grande artista e também o grande "guitar hero" dessa geração. Tem a moral de ser um artista pop e fazer shows cheios de solos, com uma influência pesadíssima do blues-rock e arranjos muito bem feitos. Ao vivo, não se prende aos arranjos dos álbuns e destrói na guitarra e também no violão. Tocou muito hoje. Nota 10!!!"

"Sobre o show do Bruce Springsteen, que tô vendo que tá rendendo muitos elogios e comentários emocionados: acho sensacional o cara nessa idade ter esse pique todo, fazer show longo (particularmente não curto isso, mas é gosto pessoal), correr de um lado pro outro, animar o público, andar pela galera, etc. Um verdadeiro "showman". Além disso, a banda dele é boa e bem ensaiada. Sim, merece elogios! Ok.

Mas, musicalmente falando, não consigo ver muita graça. As músicas repetem os refrões exaustivamente, às vezes "enrolam" muito nas introduções, as composições não saem do lugar, a banda segura a mesma harmonia durante muito tempo... Sinceramente, acho meio enfadonho. Muita energia, muito bem feito, mas pouco "conteúdo musical" pra mim. Sorry, mas não me desce...

De qualquer forma, reconheço que tem suas qualidades, mesmo que mais pela empolgação do que pela música em si."

É isso! E que venha o Rock in Rio 2015, pois certamente estarei lá de novo!

Rock n' roll.
E. Marcolino

terça-feira, 3 de setembro de 2013

A internet e o paradoxo do "tudo é grátis"

Tenho 26 anos e uso a internet desde os 13. Minha geração praticamente não comprou CDs. Eu que andei na contramão. Quando fiquei velho o suficiente para gastar meu próprio dinheiro com CDs e DVDs, já estávamos na época dos downloads de álbuns em blogs e programas P2P com milhões de pessoas compartilhando mp3s. Vi a briga do Metallica com o Napster (que bizarramente deixou a banda com uma imagem ruim, quando ela só estava tentando proteger seu próprio trabalho) e hoje em dia quem é da minha idade ou mais novo chega a me olhar estranho quando falo que comprei algum CD. Mas não tem jeito, gosto de ter o troço completo: o disco, a capa, o encarte. Nunca foi por uma questão ideológica, e sim porque eu gostava mesmo. Mas a cada vez que penso sobre esse assunto, mais me torno radical a respeito dele. Se antes eu até apoiava os downloads e criticava quem era contra o compartilhamento da música, hoje defendo a idéia de que todos temos que pagar sempre, mesmo sabendo que essa minha posição é bem alternativa atualmente. E há algum tempo cheguei numa triste constatação: as pessoas estão MUITO mal acostumadas! E não querem mais pagar pelo trabalho dos outros, caso eles estejam disponíveis (mesmo que ilegalmente) na internet. Isso é um fato.

Enfim, estou falando de música porque é a área que mais me interessa. Mas esse papo vai muito além: vale pra filmes, livros, jogos, softwares... tudo que é "baixável" na rede. O ponto em que quero chegar é o seguinte: as pessoas estão tão acostumadas com o fato de ter tudo "grátis" na internet, que elas já acham que adquirir qualquer coisa dessas sem ter que desembolsar o devido valor é um direito delas.

Estar na internet pra download não significa que seja legal. Baixar um disco que está à venda nas lojas é errado. Baixar um filme que está no cinema ou na locadora também. O que dizer de baixar um software e usar um programa "keygen" pra gerar um serial falso e ter todas suas funções disponíveis sem pagar nada por ele?

Todos esses exemplos que dei são trabalhos que foram realizados por pessoas, assim como nós, e que merecem receber pelo que fizeram. "Ah, mas o software X é feito por uma grande empresa". Sim, e essa grande empresa precisa lucrar para manter em dia os salários de tantas pessoas que vivem disso. Só um exemplo...

Esta situação está tão alarmante que mesmo quem tem condição de sobra para pagar pelas coisas acaba preferindo ir pros meios ilegais na internet. Há pouco tempo aconteceu um fato curioso: a estrela pop Justin Bieber (que, convenhamos, deve ter alguns milhões de dólares sobrando) perguntou no Twitter se alguém teria o link do vídeo do nocaute que havia acabado de acontecer no UFC. O dono do UFC, Dana White, deu uma linda resposta pelo seu perfil: "PPV, Justin" (ou seja, "compre o pay-per-view").

Não vou ser hipócrita e dizer que não baixo nada ilegal. Mas tenho evitado bastante. Já faz meses que não baixo nenhum álbum completo e tenho tentado ao máximo utilizar programas gratuitos. Nunca usei torrent e nunca pretendo usar. E acredito que precisamos fazer uma grande auto-crítica sobre esse situação e ver o quanto essa coisa de ter tudo livre na internet pode ser prejudicial pra todos.

Na internet, as pessoas reclamam demais. E é aí que está o paradoxo! Vejo todo dia pessoas (principalmente artistas) nas redes sociais dizendo que não são valorizadas profissionalmente. É aquele papo de "ninguém dá valor ao músico/designer/fotógrafo, mimimimimi". E aí o cara é fotógrafo, diz que ninguém quer pagar o "valor justo" pelo seu serviço, mas usa o Photoshop que comprou no camelô pra trabalhar. Ou então é designer, reclama que copiaram um trabalho dele sem creditar, mas ele nem pára pra pensar que fez este mesmo trabalho no Corel baixado no seu computador com Windows pirata. E o músico profissional que diz "ninguém me paga direito" tem várias discografias completas no seu HD sem nunca ter desembolsado um centavo por elas... Tudo muito incoerente. Pensem friamente: isso é muito estranho ou não é???

Vejo todo dia comentários do tipo "a música hoje em dia está um lixo", "só tem merda na mídia". Mas vejam bem: quem vende CDs e DVDs, quem rende, é a Anitta, é o Naldo, são os artistas gospel, etc. Não adianta reclamar que o nível está baixo se você não paga pelo que você curte.

Não conheço ninguém (sem exagero, ninguém!!!) que use exclusivamente produtos ou serviços originais hoje em dia. A pessoa pode até não baixar filmes e discos, mas com certeza usa um Microsoft Office pirata ou algo assim. Isso é preocupante.

E por incrível que pareça ainda surgem argumentos bizarros para defender a "liberdade" das pessoas terem acesso a tudo. Então, vou tentar dar uma resposta a alguns deles.

"O CD/livro/software é muito caro" - Bom, como QUALQUER produto ou serviço, você tem o direito de comprar ou não. Se achar que o benefício não compensa, não compre. Simples assim. Não é porque eu acho um carro caro que isso me dá o direito de ir na concessionária e pegar um deles sem pagar! E mais: várias coisas hoje são caras porque a maioria das pessoas não paga por elas. Com certeza os preços seriam menores se todos pagássemos.

"O artista não pode viver de venda de discos, tem que viver de show" - Quem é você pra dizer como alguém tem que lucrar? Você está numa posição superior? Cada um tem o direito de vender o seu serviço como bem entender. Imagine você terminando um longo projeto na sua empresa e seu chefe te diz "não vou pagar seu salário esse mês, você tem que receber fazendo outro tipo de serviço porque esse aí a gente usa de graça". É a mesma coisa.

"Hoje em dia, o artista tem que divulgar na internet" - Fato. Mas existe uma diferença entre divulgação online e compartilhar o trabalho de alguém sem autorização. Se uma banda resolve disponibilizar um disco completo para download, beleza! Aí faz parte da estratégia de cada um e não há nada de errado em baixá-lo. Mas quem prefere vender, ou disponibilizar apenas uma parte do trabalho, tem que ser respeitado.

"CD é uma mídia ultrapassada, ouço tudo no meu ipod/mp3 player/entrada USB" - Beleza. Ninguém é obrigado a gostar do CD como produto físico. Mas a música continua tendo um preço. Não quer o CD? Compre o álbum que você quer no iTunes, na Amazon, etc. Pague pelo download, pela mp3 legalizada. Só assim você colabora com o artista que você gosta.

"Não gosto de carregar livros comigo" - Mesma coisa que o CD. Compre um Kindle, um tablet, qualquer coisa dessas, e pague pela obra.

"Quem ganha dinheiro com venda de disco não é o artista, é a gravadora" - Primeiramente, hoje em dia isso não é verdade, pois grande parte dos artistas (mesmo alguns muito famosos) lançam seus trabalhos de forma independente. Dessa forma, eles ganham sim com a venda da música. E nos casos em que a gravadora ganha mais do que o artista, provavelmente foi ela que bancou a gravação, a mixagem, a produção de alta qualidade, enfim, que permitiu que aquele trabalho fosse lançado. Então nada mais justo que a gravadora receba o que tem direito e possa investir em mais coisas. Imagine quantos álbuns clássicos ("Dark Side of The Moon", "Sgt. Pepper's", etc.) não existiriam caso as gravadoras não lucrassem na época? Nem sempre o artista pode se bancar sozinho.

Bom, fica o desabafo de alguém que está "remando contra a maré" e a sugestão de mudarmos nossa visão em relação aos downloads ilegais. Não vivo de música e isso não me influencia diretamente, mas acredito que só teríamos a ganhar se nos acostumássemos a fazer o certo e pagar o preço do que queremos utilizar. Quanto mais normal acharmos pegar tudo de graça, mais raros serão os bons discos, os filmes bem produzidos, os softwares de qualidade, etc.

Infelizmente, não vejo um caminho muito fácil à frente. Espero que exista uma fiscalização maior nesse sentido para tirar do ar o que é ilegal e punir quem libera para milhões de pessoas algo que não é seu.

Se coloquem do outro lado da história. Tentem enxergar por outros pontos de vista.
Think about it!

E. Marcolino