terça-feira, 9 de maio de 2017

Teoria musical

Uma coisa que me impressiona no mundo da música é a quantidade de instrumentistas que levam a música a sério (seja como hobby ou até mesmo profissionalmente) e não têm alguns conhecimentos básicos de teoria musical.
O curioso é que na maioria das vezes isso não acontece por falta de oportunidade, mas por opção própria. Preguiça de aprender ou um tipo estranho de "ignorância proposital". E os argumentos são os piores possíveis. Coisas do tipo "não quero ficar preso a regras", "se eu estudar vou perder meu feeling" e os exemplos surreais como "ah, mas o Hendrix não sabia muita teoria", "fulano foi um gênio sem nunca ter estudado", etc.
Desmistificando essas besteiras, teoria musical não existe pra limitar a criatividade de ninguém. Pelo contrário, serve pra entendermos melhor o que ouvimos e tocamos. Não por coincidência, os músicos que são conhecidos por inovar e "quebrar regras" geralmente sabem muito de teoria e entendem bem o que estão fazendo. Ninguém perde nada ao estudar, conhecimento só agrega. Gênios e talentos excepcionais são poucos entre bilhões de pessoas, e ninguém garante que os tais gênios "com pouco conhecimento" não teriam ido ainda mais longe caso tivessem acesso a mais informação.
Não to falando aqui que todos precisam saber teoria avançada, analisar harmonias sinistras de jazz, conhecer escalas exóticas, tocar música erudita ou ler partitura em tempo real. Mas falo do que deveria ser básico: saber identificar a tonalidade de uma música, as notas que formam cada tipo de acorde, os intervalos, ter "na mão" pelo menos a escala maior (e menor natural, que é a mesma coisa), entender a função de cada acorde, identificar diferentes compassos (não só 4/4), esse tipo de coisa.
Sim, podem existir músicos que são excelentes mesmo tendo conhecimento teórico muito raso (ou nenhum)! Mas basta estudar um pouquinho pra entender mais a fundo o que está sendo tocado. No mínimo, isso permite que todo músico se comunique melhor com outros em qualquer banda ou trabalho que esteja participando. E essa comunicação pode ser essencial.
Se você compõe intuitivamente, certamente vai ter mais ferramentas se começar a estudar. Se você improvisa um solo "de ouvido", não significa que não está usando escalas (mesmo de forma inconsciente) e que não existe uma teoria por trás daquilo que você toca. Ela não deixa de existir pelo simples fato de ser ignorada. Em qualquer música, podemos analisar a harmonia, as melodias, e entender melhor tudo o que está acontecendo, mesmo que seja um rockão de dois ou três acordes.
Queria deixar essa dica aqui. Estudem, busquem ser músicos mais completos. Todo mundo só tem a ganhar com isso. Não existe motivo nenhum pra ignorar o estudo teórico se você leva a música a sério.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Jellyfish

Parando pra falar um pouco mais a fundo sobre o novo álbum do Anxtron...


Essa história começa lá em 2011, logo depois de termos gravado "Brainstorm", nosso álbum anterior (que só seria lançado dois anos depois, mas isso é outro papo). O Anxtron na época era formado por mim, Rafael Marcolino (bateria) e Gabriel Aquino(teclado) e já estávamos há algum tempo em formação de trio, sem baixista, até que sugeri a entrada de GG (Gabriel Souza) na banda, que sem dúvida hoje considero uma das melhores idéias que já tive. GG chegou não só "vestindo a camisa" e aprendendo todo nosso repertório, mas também já começando a trabalhar em novas músicas, que na verdade sempre foi a nossa atividade favorita, dando uma injeção de ânimo pra levarmos nossas composições a outro nível.

A partir daí, sem pressa de lançarmos nada, as músicas novas foram tomando forma. Num dos primeiros ensaios com essa formação já criamos "The Oasis", que agora é a primeira faixa do álbum. E aí conforme passavam os ensaios (praticamente todo domingo de manhã!), a gente trabalhava em novas ideias, montava novas músicas, mudava o arranjo de algumas partes, testava timbres diferentes, jogava fora coisas que não achávamos tão boas... Enfim, muita coisa foi feita e com muita dedicação em todos os pequenos detalhes. E essas músicas foram tocadas diversas vezes antes de serem gravadas, inclusive em shows, o que acho que foi essencial pra esses sons "amadurecerem" antes de começarmos o processo de gravação.

Uma coisa que gosto de destacar nesse álbum é o lado coletivo dele. É um trabalho de banda em sua essência. Pela primeira vez, todos os integrantes do Anxtron assinam todas as composições do disco. Ninguém chegou com nada pronto, no máximo um riff ou uma idéia solta. Tudo surgiu naturalmente nos ensaios, tocando juntos. Muita coisa veio de verdadeiras jam sessions que fizemos, com improvisos totalmente soltos, que resultavam em sons que várias vezes até nos surpreendiam.

"Jellyfish" é o retrato artístico do nosso trabalho como banda durante quatro anos, de 2011 a 2015. Em 2015, Gabriel (teclado) optou por deixar o Anxtron por motivos pessoais, mas não sem antes concordar em participar normalmente das gravações do álbum, o que foi devidamente feito entre 2015 e 2016!

Fiquei muito satisfeito e orgulhoso quando escutei o resultado final. Todos nós certamente evoluímos muito como músicos desde o álbum anterior. "Jellyfish" é mais progressivo, é mais complexo e, ao mesmo tempo, acredito que tudo soa muito natural, pela forma que ele foi criado. Tenho certeza que é o trabalho mais maduro que já gravamos. Dessa vez sinto que sabíamos exatamente aonde queríamos chegar e como queríamos que a banda soasse, depois de tantos anos de história. E posso dizer que o que está gravado aí é arte em sua pura forma, feito unicamente pelo nosso amor à música, sem tentar agradar ninguém além de nós mesmos. Soa egoísta, mas é a verdade (e não significa que não gostamos de ver que outras pessoas curtem e se identificam com nosso som - haha). Se estivéssemos fazendo isso por retorno financeiro ou reconhecimento pessoal, não estaríamos lançando um disco de rock progressivo em pleno ano de 2017, afinal.

Deixo um agradecimento especial pra todos que participaram do álbum (além dos meus companheiros de banda, é claro!). Eduardo Magliano foi essencial nas gravações de bateria,Eduardo Belchior (Intense Music Productions) fez um trabalho incrível de mixagem e masterização diretamente da Suécia (e me aguentou meses enchendo o saco via Facebook), Bernardo Ramalho nos ajudou mais uma vez com o design gráfico da capa e ainda tivemos a participação especial da guitarrista Nili Brosh, diretamente da California, que gravou um solo de guitarra SINISTRO na música "Talking Toy".

Last but not least, obrigado a qualquer um que dedique 39 minutos e 43 segundos da sua vida pra ouvir esse trabalho que fizemos com tanto carinho.:)

Rock n' roll!
E. Marcolino